O que falta para o Brasil?
O que falta para o Brasil?
*por Adilson Luis Gonçalves
O Brasil, por suas raízes histórias, sempre foi um país agrário, o que é uma benção. Mas também foi vítima do extrativismo predatório. Nossos colonizadores tiraram tudo que puderam, mas não souberam aproveitar dessa riqueza, por má gestão e falta de visão estratégica. Essa cultura infelizmente ainda está presente em alguns quadros políticos brasileiros. A gestão do país ainda é disputada ferrenhamente por grupos que competem entre si, não necessariamente para o bem de todos e felicidade geral da nação. A gente vota pela saída dos corruptos e incompetentes, - alguns até deveriam ser presos ou banidos - mas sempre há uma nomeação ou indicação política, que diz ao povo que eles ficam na vida pública.
Mas houve hiatos históricos que mostraram que o Brasil dos currais eleitorais poderia ser mais que celeiro do mundo: Mauá provou que havia lugar para a indústria.
Getúlio Vargas seguiu à risca a ideia de que crise e oportunidade caminham juntas: apesar de ditador, negociou a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial em troca da implantação da indústria siderúrgica no Brasil, base para o desenvolvimento industrial. Talvez por ser tão bom em azeitar as coisas também criou a Petrobras.
Tendo aço e combustível, Juscelino deu o próximo passo, ou melhor, como tinha a pressa dos cinquenta anos em cinco, preferiu consolidar a indústria automobilística no Brasil a 100 km/h, que as crises de petróleo, a partir de 1973, limitaram em 80 km/h, até o Brasil praticamente parar, a partir de 1980.
Os governos militares investiram no Milagre Brasileiro, que teve prós e contras. A melhoria da infraestrutura viária e energética foi marcante. Já a Transamazônica e a Nuclebras foram fiascos faraônicos, apesar de permeadas por intenções estratégicas: integração e preocupação com as usinas termonucleares dos hermanos.
A criação da Embraer foi um dos pontos altos desse período, mas a reserva de mercado de Informática e a proibição de importação de carros nos deixaram anos-luz atrás no desenvolvimento tecnológico internacional. Pagamos muito caro por isso: no produto de baixa qualidade e pelo sucateamento da indústria nacional. Afinal, se só tinha aquilo para comprar, porque investir em modernização do parque produtivo? Na cabeça dos empresários de então, a reserva de mercado extinguiu a lei da oferta e da procura: se ninguém comprava, em vez de baixarem os preços, demitiam funcionários, reduziam a produção e aumentavam ainda mais o preço. Os carros enferrujavam e trepidavam em poucos meses. Para serem exportados era necessário modificar centenas de itens!
Para piorar, como quase todas as grandes empresas eram estatais, o ranço cultural brasileiro as transformou em imensos cabides de emprego, com contratações sem concurso público, mérito ou competência, para cargos regiamente remunerados.
No mais, crises de petróleo, radicalismos de direita e esquerda, financiados pelos dois lados da Guerra Fria, e uma monumental dívida externa transformaram o milagre em anos de inflação galopante e recessão causticante.
O Brasil já não era mais o país do futuro. O que faltava para o Brasil?
Adilson Luiz Gonçalves é Mestre em Educação
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